xocolate

ponto de encontro dos amantes de chocolate... e doutras coisas doces, menos doces e salgadas

Monday, February 05, 2007

No Porto, salva-se o POP

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Desde o concerto da Nancy Sinatra que não ia ao Porto. Ou seja, há imenso tempo.
A pretexto de um tema nada culinário, quis Deus ( e as obras da LisboaGas) que este fim-de-semana tivesse rumado até lá.

Viajar para mim é sinónimo de ir conhecer novos lugares, culturas, sabores... Mesmo viajando para uma cidade onde vivi cinco anos da minha vida, há sempre novas coisas por descobrir. Desta vez tinha duas coisas que impreterivelmente queria descobrir e experimentar : a nova (já não tão nova assim) casa do Miguel Castro Silva, o Bull & Bear, e o – esse sim novíssimo - Kool, na Casa da Música, a incursão nortenha de Augusto Gemelli associado à família Júdice. Para evitar dissabores obviamente que fiz reservas. O plano era jantar no sábado no Bull & Bear e almoçar no domingo no Kool. E foi cumprido (quase) à risca.

Antes de tecer alguns comentários e apreciações ao que encontrei em ambas as casas, cumpre-me fazer um preâmbulo.

Tenho fama, entre amigos claro, de ser dono de um sentido crítico apreciável, o que aliado a alguma inflexibilidade assumida, certamente farão de mim uma criatura execrável para quem/ para aquilo que é objecto da minha apreciação e análise. Apesar de viver bem com essa fama, os anos dão-nos a tal patine da diplomacia. Embora sempre me tenha assumido como um gajo muito mais de rupturas do que de consensos, já cheguei àquela fase da vida em que percebi que a perfeição além de praticamente inexistente é dificilmente almejada. Sobretudo por terceiros.

Por isso mesmo precisamos de nos tentar adaptar àquilo que temos. Não adianta ficar “ofendido” com uma mesa suja num bar de tapas madrileño, assim como não adiantará fazer um ensaio sobre a consistência ideal dos Mc Flurry. Adaptar a nossa amplitude crítica ao espectro ocupado pelo objecto da nossa análise conduzirá certamente a resultados, embora altamente subjectivos, certamente mais justos.

Nesse sentido importa definir de antemão qual o espectro em que coloco (direi agora colocava, para ser mais coerente) o Bull & Bear e o Kool no nosso panorama gastronómico nacional.

Quanto ao Bull & Bear é por muitos tomado (e porventura pelo próprio, senão eventualmente não se abria uma casa paredes meias com Rosas, Teixeiras e Fashion Clinic’s) como o melhor restaurante do Porto. Mais considerações serão apenas palha.

O Kool, sendo uma casa recente, é uma casa que desde logo se quis tornar de referência (ainda antes de ter a cozinha equipada), recorrendo ao uso dos nomes como factor distintivo e garante de qualidade acima da média . À frente dos seus destinos estão dois nomes com responsabilidades de peso na restauração portuguesa : Júdice e Gemelli. Esperar menos que bom de Augusto Gemelli seria contradizer uma legião de fãs que, alguns deles, colocam a sua Galeria, na Rua de S. Bento, no lugar de topo dos restaurantes da capital.

Portanto não me peçam para olhar para o Kool e para o Bull & Bear como se estivesse de visita ao Zé do Peixe Assado. Os padrões são –e só podem ser – outros.

BULL&BEAR


Sábado, 21h30. O rés-do-chão do prédio do arquitecto Alcino Soutinho alberga a nova casa de Miguel Castro Silva. O aspecto é clean e sóbrio.

O Bull & Bear tem dois espaços distintos : uma sala de petiscos e vinhos, vulgo Taberna, e a sala do restaurante propriamente dito. Pelo meio um hall de entrada. Um hall de entrada onde não está ninguém a acolher quem chega. Um hall de entrada onde se espera até se ter a sorte de um empregado por ali passar e lhe comunicarmos que fizemos uma reserva…

A sala do restaurante é pequena, o que por si só poderia ser bastante agradável.
Não o é - tem ar quase enfadonho de restaurante de negócios - será certamente bem mais agradável durante o almoço devido à luz natural que entra ao logo de todo o alçado nascente filtrada pelo pátio interior-, os acabamentos não proporcionam um ambiente cosy nem uma sensação de pertença. A sala está muito mal arrumada : espaços vazios residuais alternam com distâncias de setenta centímetros entre mesas, indutoras de partilha não desejada de conversas particulares. No fundo trata-se um corredor com mesas, pintalgado de grandes abat-jours. Mas a este respeito eu até estava disposto a colocar-me do lado dos mais “puristas” e considerar que todos estes detalhes eram irrelevantes se a coisa fosse gastronomicamente excepcional…

O menu é curto. A carta de vinhos é extensa e diversa, embora peque pela oferta algo limitada de vinhos não portugueses. Não há vinhos chilenos por exemplo, e que me recorde, oferece apenas um único Rieslig.
É oferecido ao cliente um “Menu de Degustação” mas que não corresponde a mais do que a um equívoco, visto tratar-se dum menu prix-fixe que apenas faz uma combinação de pratos em função dum preço final, não oferecendo uma particular e distinta experiência gastronómica. Mesmo os menus prix-fixe não é habitual comporem-se de pratos todos eles disponíveis na escolha à la carte

A Sopa Rica do Mar apresentou-se à temperatura ideal, bem condimentada e, de facto, rica. Os vários peixes eram perceptíveis, não havendo uma homogenidade de sabor e preponderância dos temperos, o caldo era limpo e colorido em contraste com o branco do peixe bastante fresco.


O Magret de Pato com Risotto de Diversos Cogumelos já deu mais que falar. O pato estava bem confeccionado, no ponto certo. A temperatura estava ok, mas notava-se uma certa falta de uniformidade nos temperos. Já o risotto apresentou-se a uma temperatura ideal mas repleto de manteiga. Eram imperceptíveis os odores e qualquer sabor dos cogumelos, shitake ou outros. Uma decepção.

O Bolo de chocolate, sua mousse e gelado que pedi para sobremesa limitaram-se a cumprir. O bolo era muito simples, excessivamente cozido, mas agradável ao palato. A mousse era de bom chocolate e o gelado não pareceu feito na casa.


O empratamento em geral nunca foi nada de extraordinário, pecando sobretudo no caso da sobremesa, em que na cozinha se limitaram a polvilhar bolo, mousse e gelado com uma mesma dose de chocolate em pó. Nem cacau puro salvaria uma apresentação tão relaxada, quanto mais chocolate de supermercado…

Que no Porto há bastante bairrismo, isso é uma característica inegável. Mas era escusado comprar café à Unicer… o Café Bogani é de fraca qualidade e torna-se um péssimo ponto final numa refeição, não fosse a gentileza dos cookies que o acompanhavam. Ainda assim, o contacto da Lavazza em Portugal é a Vendomatica . Certamente farão um bom preço.

Assim sendo, quanto a Bull & Bear = Melhor Restaurante do Porto, estamos conversados. Não sei qual é, mas certamente não é o Bull & Bear.

KOOL


Domingo, uma e meia da tarde. O elevador leva-me do parque de estacionamento directamente ao sétimo piso da Casa da Música. O espaço que encontro não é uma surpresa, assim como não é o majestoso candelabro da autoria da Joana Vasconcelos. Ambos são visíveis no sítio da internet do Kool, o restaurante que deve o seu nome ao arquitecto Rem Koolhas, autor do projecto do ícone portuense. Pena que o mesmo website –e sobretudo quem aceitou a reserva – não refira outras coisas bem mais importantes.

Os anunciados sete metros de pé-direito confirmam-se. E confirma-se também algum desconforto que os mesmos acabam por causar. Facilmente resolúvel com iluminação mesa a mesa, que crie uma escala de conforto em contraste com o desamparo que a amplitude espacial do restaurante provoca. Tenho na memória apenas um restaurante cuja sala tivesse um pé-direito de tamanhas dimensões - o Town, em Nova Iorque. Mas nesse caso - embora arquitectonicamente bastante distinto ainda assim - os materiais (tecidos, estofos, etc) davam uma dimensão humana e acolhedora ao nicho da refeição.

A sala está vazia. Somos os primeiros a chegar para o almoço. Já à mesa somos brindados com um sorridente “Hoje temos o nosso serviço buffet…”
- Perdão, disse buffet?
(de facto o estaminé encontrava-se montado a um canto, com ar decadente de buffet de hotel três estrelas)
“Sim, hoje temos apenas o buffet”
- Então parece-me que fui enganado…
É inadmissível que um restaurante que no seu sítio na internet tem disponível o menu não refira em parte algum que aos domingos esse menu não existe, existe um buffet de três ou quatro pratos, porventura reciclados da noite de sábado, sabe Deus. Mas é sobretudo impensável que alguém aceite uma reserva e não mencione sequer que o tipo de serviço prestado para a precisa ocasião dessa reserva é diferente do habitual e publicitado. No buffet pairavam um ossobuco à la milanese, um risotto duvidoso, uma lasagna verde, uma tomatada de gnocchi… enfim… qualquer semelhança com o menu habitual publicitado nem sequer era pura coincidência.
A minha companhia ainda tentou ( e arrependeu-se passada meia hora quando teve de recorrer ao Alka Seltzer). Eu pura e simplesmente fiquei-me pela água, tal foi a decepção.

Enquanto esperava fui contemplando alguns detalhes e a coisa agravou-se. O Kool, como é - ou quer ser - um sítio cool, não usa toalhas. Tudo bem, trocou-as por runners de linho. Mas quando não se usam toalhas convém que não se descure o estado das mesas. E o estado das mesas só não é indescritível porque aqui tenho umas fotos a ilustrá-lo, que valem certamente mais que mil palavras minhas.

Portanto meu caro Augusto Gemelli, veja lá a que projectos associa o seu nome, porque como alguém diria, caminha-se a passos largos para o abismo.
E já agora meu caro Miguel Júdice… umas empregadas de limpeza vinham a calhar. E se não for pedir muito, um chefe de sala que também possa atender as reservas e não conduza os clientes ao engano.

Para salvar a viagem aquele que é sem dúvida o melhor local da noite portuguesa para uma clientela up-30’s. O POP, casa que Cristina Ferreira “montou” no antigo Dona Urraca, em plena Foz do Douro, é sem dúvida um espaço bonito, cosmopolita, bem frequentado, com óptima música e onde a diversão é garantida. A regressar, sempre.

4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Assino por baixo.

Quanto ao 'Kool', acho que é inépcia, mesmo...

07 February, 2007 17:50  
Anonymous Anonymous said...

o rei vai nu ! será que só o homem deste site vê ?

22 March, 2007 10:47  
Blogger Miguel Pires said...

O caso do Kool é de facto grave. Quanto ao Bull&Bear apenas fui lá uma vez, há já algum tempo, e a experiência foi boa. No entanto, tenho recebido relatos de experiências contraditórias, o que me leva a crer que existe alguma (?) inconstância neste local – infelizmente, um mal comum a outros locais de topo.

cumprimentos
Miguel Pires
(http://www.chezpirez.blogspot.com/)

26 March, 2007 01:31  
Anonymous Anonymous said...

O Bull&Bear é realmente uma decepção. Considerá-lo o melhor restaurante do Porto é simplesmente um absurdo!
Já o Pop prima pelo bom gosto a todos os niveis - espaço, clientela e música. Frequento-o desde a sua abertura e não há absolutamente nada no Porto comparável.

10 October, 2008 23:26  

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